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18 de dez. de 2011

Últimos soldados americanos deixam Iraque após quase nove anos

EUA perderam 4.474 homens e cerca de US$ 770 bi na busca por "armas de destruição em massa"

Os últimos soldados americanos abandonaram o Iraque na manhã deste domingo com destino ao Kuwait, pondo fim à retirada total do país, invadido há cerca de nove anos, confirmou um comandante americano à AFP na fronteira. No dia 20 de março de 2003, as forças americanas penetraram em massa no Iraque para derrubar o então ditador Saddam Hussein, executado posteriormente. Permanecerão no Iraque apenas 157 americanos, responsáveis por treinar as forças iraquianas, e um contingente de marines para proteger a embaixada de Bagdá.

O último comboio, composto por 110 veículos que transportavam cerca de 500 soldados, pertencentes em sua maioria à 3ª Brigada da 1ª Divisão de Cavalaria, atravessou a fronteira às 07h30min local (02h30min de Brasília). Há oito anos e nove meses, as tropas americanas cruzaram a fronteira em sentido inverso na que se chamou "Operation Iraqi Freedom" (Operação Liberdade Iraquiana), que daria lugar à guerra mais polêmica da história dos Estados Unidos desde a do Vietnã, quase meio século antes.

O exército americano chegou a contar com 170 mil homens no momento de maior intensidade da luta contra a insurreição e com 505 bases no Iraque. "É agradável saber que é nossa última missão aqui. Escrevemos uma página da história, somos os últimos a sair", declarou o soldado Martin Lamb, integrante do último comboio.

Diante da negativa do Iraque de conceder imunidade aos milhares de soldados americanos encarregados de continuar a formação, o presidente americano, Barack Obama, decidiu no dia 21 de outubro passado a retirada total de suas tropas. O último esquadrão abandonou na madrugada deste domingo a base conhecida como Imã Ali pelos iraquianos (e como Camp Adder para os americanos), perto de Nasiriya, no sul do país.

A partir de agora, os 900 mil elementos das forças iraquianas terão de garantir sozinhos a segurança do país, ameaçada pelos insurgentes, especialmente a Al-Qaeda, que mesmo enfraquecida ainda tem capacidade de destruição. Também deverão impedir o renascimento das milícias e uma reedição da guerra sectária entre xiitas e sunitas, que deixou milhares de mortos entre 2006 e 2007.

Os americanos deixam um país afundado em uma crise política, após a decisão do bloco laico Al Iraqiya, do ex-primeiro-ministro Iyad Allaui, de suspender a partir de sábado sua participação no Parlamento. Com esta decisão, o segundo maior grupo no Parlamento, com 82 deputados, contra os 159 da Aliança Nacional (a coalizão dos partidos religiosos xiitas), pretende lançar uma mensagem contra a política do primeiro-ministro Nuri al-Maliki.

Os sunitas, etnia do ex-ditador Saddam Hussein, se consideram abandonados pelo governo de maioria xiita e exigem maior autonomia nas regiões que eles dominam, como já desfrutam os curdos. Mas isso ameaça dividir o país em mil pedaços.

Apesar de o Iraque exportar 2,2 milhões de barris diários de petróleo, o que significa 7 bilhões de dólares ao mês, serviços básicos como eletricidade ou água potável continuam sofrendo problemas. Há outros dois perigos que ameaçam provocar conflitos internos: a crise na Síria entre sunitas e alauitas e a influência cada vez maior do Irã.

Assim termina a invasão lançada sem o aval da ONU para encontrar armas de destruição em massa que Saddam Hussein teria escondidas, segundo a administração americana, liderada na época por George W. Bush. Depois revelou-se que elas não existiam.

Os Estados Unidos pagaram um alto preço por esta ocupação: o Pentágono gastou cerca de US$ 770 bilhões em nove anos, tempo em que morreram 4.474 soldados americanos, segundo os números oficiais de Washington. Outros 32 mil soldados ficaram feridos. A ocupação americana desde março de 2003 teria provocado também entre 104.035 e 113.680 vítimas civis no Iraque, segundo a organização britânica IraqBodyCount.org.

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