Um dia depois de a Câmara de Vereadores de Porto Alegre colher depoimentos sobre o Instituto Ronaldinho Gaúcho (IRG), alvo de uma iminente CPI na Casa, o computador que registrou as falas foi furtado.
Câmeras do circuito interno do prédio registraram a ação de um homem bem trajado que entrou por volta das 19h desta quinta-feira na sala da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, no terceiro andar, e, ignorando todos os outros bens da peça, levou consigo apenas a máquina. A assessoria do vereador Mauro Pinheiro (PT), que organiza a mobilização em favor da CPI, evita acusações.
"Esse material (fala dos depoentes) está seguro em outros lugares. Não podemos afirmar que há qualquer relação com crime político. Foi levantado, mas não estamos acusando. Pode ter sido coincidência, mas, claro, estranha que tenha sido 24 horas depois dos depoimentos e logo naquele computador", afirmou ao Terra um assessor de Pinheiro, garantindo que as imagens do furto já foram entregues à polícia.
Segundo a assessoria de Mauro Pinheiro, com a adesão do vereador Tarsísio (Flecha Negra, do PSD), falta apenas uma assinatura para a instauração da CPI do IRG. Os contratos, rescindidos no final de 2010, quando a entidade do atleta do Flamengo encerrou as atividades, estão sob análise e foram encontradas inconsistências na prestação de contas. Para a secretária de Educação de Porto Alegre, Cleci Maria Jurach, uma das ouvidas pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte, o instituto deixou de cumprir o plano de trabalho com a prefeitura e pode ser obrigado a devolver R$ 503,3 mil aos cofres públicos. A secretaria tinha contrato com a entidade do jogador de 2007 até 2010.
Em entrevista ao Terra nesta semana, Cleci explicou que o IRG havia assinado dois contratos com a prefeitura: o primeiro, firmado em 2007 e encerrado em 2010, previa o atendimento de estudantes de escolas municipais no turno inverso ao da sala de aula. Segundo a secretária, foram repassados ao projeto "Letras e Gols" R$ 2.944.639,52. Durante a vigência do convênio, foram assinados acordos para aumentar o valor dos repasses e ampliar o número de atendidos, mas a parceria acabou quando o instituto pediu um reajuste com o qual a secretaria não concordou.
O segundo convênio, firmado em 2008, era o chamado "Jogos de Verão", com repasse de R$ 2,3 milhões ao instituto de verbas do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci), do Ministério da Justiça, e contrapartida de R$ 51 mil da prefeitura. De acordo com secretário de Governança Local, Cezar Busatto, o próprio ministério elege a entidade conveniada que receberá os recursos. A declaração gerou comentários entre alguns vereadores de que o governador do Estado, Tarso Genro (PT), então ministro da Justiça, deveria explicar a razão da escolha do IRG.
De acordo com Mauro Pinheiro, os problemas estão em notas fiscais apresentadas pela organização não governamental (ONG) Instituto Nacional América (INA), que foi subcontratada pelo instituto para o "Jogos de Verão". O vereador afirma que os documentos apresentam valores exorbitantes para a compra de material e que há problemas em balancetes do IRG. "Num único balancete do convênio, assina como presidente o Roberto Assis Moreira (irmão e empresário de Ronaldinho), ao lado como tesoureiro, Roberto Assis Moreira. Em um outro documento, o conselho fiscal aprova a prestação de contas do tesoureiro e do presidente, e o responsável pelo conselho fiscal aparece como Roberto Assis Moreira", diz.
O Instituto Nacional América é investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de envolvimento nos desvios de recursos da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). "As notas fiscais desse instituto para o IRG são em série, 52, 53, 54, 55... Uma das séries é de notas fiscais para o IRG, depois entram uma série de notas para a Ulbra, tudo nota em sequência", disse o vereador.
O gerente de projetos do Instituto Ronaldinho, Luciano Comassetto, diz que a entidades fez licitações em todas as áreas e está tranquila quanto à prestação de contas. Sérgio Queiroz, advogado do instituto, afirmou que os recursos serão devolvidos caso as inconsistências sejam provadas.
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